Projeto visa alterar Lei de Proteção de Dados para impedir censura do governo

Um novo projeto da Câmara dos Deputados pretende alterar as normas da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). A atitude foi tomada depois que o governo federal retirou os dados pessoais no site do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e do Censo Escolar de 2021 numa tentativa de impedir a censura. O projeto pretende mudar a Lei para que as informações pessoais das crianças e adolescentes possam ser distribuídas sem a necessidade de aprovação do responsável, desde que não consigam ser utilizadas para a identificação de estudantes. A proposta foi feita pelos deputados Adriana Ventura (NOVO-SP) e Tiago Mitraud (NOVO-MG) em março e agora passará por análise do plenário da Câmara dos Deputados.

No momento, a Lei autoriza o uso dos dados de adolescentes e crianças depois da aprovação de um dos responsáveis por ela. De acordo com os deputados do NOVO, essa foi a norma que a Inep se baseou para não distribuir os dados completos sobre o Censo de 2021 e o Enem de 2020, além de não ter divulgado sobre o desempenho geral da prova nacional.

Na visão dos deputados, “com a retirada da série histórica, mesmo os dados disponíveis do Censo Escolar de 2021 e do Enem 2020 são insuficientes para compreendermos a evolução da aprendizagem e das condições da educação no país”. Noutro sentido, mesmo os dados disponibilizados não possibilitam aos pesquisadores verificar o desempenho individual dos estudantes em relação a sua instituição de ensino, isso porque não é possível segmentá-los por escola”.

Os parlamentares reforçam que o Inep teve um bom tempo para se adaptar à Lei e que a instituição não deveria se utilizar da LGPD para não expor as informações do Enem. Do outro lado, o Inep afirmou em nota que a retirada dos dados foi para se adequar a LGPD, uma vez que, os dados poderiam identificar os alunos e os professores, mesmo que não fossem incluídas informações como nome, telefone e CPF.

Manifestação de entidades contra a censura

Algumas instituições do direito digital e da área educacional foram contra a ação do Inep de censurar os dados. Através de uma nota oficial, as Comissões de Privacidade e Proteção de Dados e a de Tecnologia e Inovação da OAB informaram que “essa censura impossibilita, dentre diversos estudos e aplicações, a produção de pesquisas e o estabelecimento de políticas públicas de educação, inclusive, relacionados ao impacto da pandemia a alunos e professores de todo o país […] Mais do que isso, a LGPD não pode ser utilizada para interferir na execução de políticas públicas, nem para suprimir o acesso a informações que são de interesse geral relacionadas à execução de políticas públicas e a dispositivos constitucionais, como é o caso da educação.

Na visão da OAB-SP, a LGPD vem sendo utilizada para limitar o acesso aos dados públicos e isso deve ser repudiado. Para o Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas – organização com 25 entidades chefiada pela ONG Transparência Brasil – a escolha da Inep é errada e influência na transparência de políticas públicas para Educação.

É preciso ponderar benefícios e eventuais riscos. No caso dos microdados do Inep, os benefícios dos dados já anonimizados estão colocados há mais de uma década, e geram imenso valor para a sociedade.”, informa o Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas.

Segundo os dados do Transparência Brasil, o governo atual responde menos solicitações de acesso à informação quando comparado com os governos anteriores. Nessas negativas 20% são por conta da LGPD, que está sendo utilizada para evitar acesso a dados do governo. O advogado Adriano Mendes destaca que as duas leis não cancelam a distribuição de dados ou verificação de irregularidades.

Fonte: TecnoBlog

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